"Quinta-Crônica" #8: Amor e meus outros empreendimentos falidos¹
¹Excerto de uma coletânea que não vingou. PS: essa coluna perdeu seus conceitos de origem há tempos, sorry.
Empreendimento I: Amor
É chão sem ladrilho, dizia minha vó
É você, diz minha mãe
É você, dizia meu pai
É fogo que arte sem se ver, diz lá naquele poema
É uma droga, diz Amanda quando bêbada
É meu Ricardo, diz Amanda quando sóbria
É besteira, diz Ricardo para Amanda
É você, diz Ricardo para mim
É perigoso, devia dizer no rótulo
É fácil de achar rima pra ele, disse o poeta
É frágil, diz quem tem
É forte, diz quem sente
É falso, diz quem já sentiu
É falso, diz quem já teve
É falso, diz quem não acredita
É mentira, diz quem acredita
É pecado, diz quem inveja
É grande, diz o descobridor
É escasso, diz o acostumado
É duvidoso, diz o que não entende ainda
É complicado, diz o que entende demais
É insuficiente, diz o experiente
É questão de tempo, diz o traído
É questão de tempo, diz o insistente
É caminho sem volta, disse o que se entregou
É serra com nevoeiro, diz o que tem medo de se entregar
É muito mais coisas que isso, diz quem leu até aqui
Empreendimento II: Trauma
Pra mim é coisa de livro, filme e novela
Meu rosto não é daqueles que você olha no fundo do único olho que restou e diz que ama
Meu pai capotou o carro no meu primeiro dia de aula, fui parar numa cama
Minha mãe enterrou meu pai naquela tarde depois buscou a filha que ainda diz que ama
Finjo que acredito, mas um espelho qualquer já me desengana
Metade do meu rosto deve ter sido enterrado com meu pai naquele dia
Ou ficado no asfalto,
Ou nas ferragens do carro em algum desmanche
A mancha é tão viva quanto a lembrança, tem vida própria
No frio ela acorda clara, penso que um dia poderei ver meus ossos através da mancha
No calor ela é maldosa, faz tudo se revirar, reaviva a lembrança dos primeiros dias
Como alguém ama uma imagem assim?
Pra mim é coisa de livro, filme e novela
DAS COISAS QUE ANDO LENDO POR AQUI E VOCÊ TAMBÉM PODERIA DAR UMA OLHADINHA…
Uma interessante reflexão sobre hábitos e formigas analfabetas do Pedro Rabello em “Tudo bom e nada presta”.
Truques muito úteis para os dias simplesmente lotados da Fal Azevedo em “Drops da Fal”.
Reflexão muito necessária sobre as redes, nosso tempo nelas e o resultado/objetivo disso tudo da Carol Bensimon em “Nevoeiro”.
Um texto simples sobre um assunto chato do jornalista André Forastieri em “André Forastieri”.
Ótimas notas sobre o uso da internet por jovens, eu como professor em sala de aula, assino o pé da folha de Marcos Vinícius Almeida em “Narrativas apócrifas”.
Nunca pensei que me pegaria lendo sobre esse tema de modo interessadíssimo na News de Rogério Arantes em “Aquele gol que eu escrevi”.
quando o amor vira trauma, é um problema...
obrigado pela indicação! =)
Essa polifonia sobre o amor já diz muito sobre o que ele é e pode ser!
Muito obrigado pela menção à "Aquele gol que eu escrevi"!